quinta-feira, 7 de março de 2013

Futuro econômico da Venezuela e incerto após a morte de Hugo Chávez


Especialistas falam sobre o que muda nos negócios entre Brasil e Venezuela. Saiba também como fica a situação de Cuba, país que possui extrema dependência do modelo chavista

Por Luiz Gustavo PACETE
Dependência do petróleo. Essa foi uma das frases mais citadas em análises e comentários repercutindo a morte do presidente venezuelano Hugo Chávez, na tarde desta terça (5/3). Se por um lado, Chávez avançou em um modelo popular baseado em distribuição de renda e estatização de empresas, o suporte das ações sociais da Venezuela, durante os 14 anos que ele esteve no governo, foram graças à produção de petróleo. 
No último mês, segundo grevistas do setor petroleiro, a Venezuela estava produzindo 484 mil barris diários por meio da empresa estatal Petróleos de Venezuela S.A (PDVSA). De acordo com o governo, o número produzido é de 1 milhão de barris por dia. Aproximadamente 60% da produção seguem para os Estados Unidos, um dos principais inimigos ideológicos do modelo bolivariano. Cerca de 15% do petróleo importado pelos estadunidenses provêm da Venezuela. Por várias vezes, Chávez ameaçou cortar o fornecimento dos americanos. 
 
Os rumos da economia venezuelana se perderam no último ano e se agravaram nos últimos meses. Entre as principais medidas que analistas apontam como urgentes para o país está um ajuste fiscal e mais desvalorização da moeda local, o bolívar. Em janeiro, o vice-presidente Nicolas Maduro precisou desvalorizar a moeda em 32% comparada com o dólar.  De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o déficit público do país, em 2012, era de 7,4%.
 
Com os ajustes fiscais, os próprios benefícios sociais devem ser cortados. Essas medidas podem contribuir para o aumento da inflação que, em 2012, foi de 19,9%. O desabastecimento do país também é um grande problema. Faltam produtos nos supermercados e a dependência do petróleo faz com que a Venezuela tenha que importar a maior parte do que consome, principalmente no setor de consumo. 
 
Políticas econômicas
 
Para muitos economistas, apesar do apelo popular e o carisma, Chávez não foi um bom administrador, desorganizou a economia e tratou investidores com hostilidade. As expropriações, por exemplo, foram uma grande marca de seu governo e renderam gastos de até US$23 bilhões para o país. Até 2011, mais de 400 empresas já haviam sofrido intervenção estatal.
 
Pablo Uchoa, correspondente da BBC Brasil em Washington e autor do livro “A encruzilhada de Hugo Chávez”, explica que com a morte do mandatário a atenção de alguns países da região do Caribe deve ser dobrada, já que 17% do PIB da região são gastos na compra do petróleo que vem do país. “A morte de Chávez pode representar uma crise para esses países”. Cuba é o país que mais depende da Venezuela na região. 
 
Ainda nesta terça (5/3), a PDVSA garantiu que não serão afetadas as vendas de combustível e petróleo. ParaRubens Ricupero, ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), o estilo centralizado de Chávez pode trazer sérios problemas para a economia, mas o diplomata observa que o modelo chavista vai continuar mesmo sem a presença de seu líder.
 
Antonio Madeira, economista da LCA Consultores, explica a DINHEIRO que até agora o mercado ainda não reagiu de forma agressiva à morte de Hugo Chávez, principalmente por causa do petróleo. Para ele, será possível falar de um cenário mais preciso nas próximas semanas com o desdobrar dos acontecimentos políticos. “Agora, até que saia o resultado das eleições, a situação muda pouco no mercado, já que, Chávez já não governava desde dezembro”. 
 
Relações com o Brasil
 
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O Brasil tornou-se um parceiro estratégico para o país
 
Autor do livro “Brasil-Venezuela”, o professor da Universidade Federal de Roraima, Thiago Gehre explica que a parceria entre Brasil e Venezuela vai além do comércio, ela está embasada em investimentos. “Junto com a Argentina, a Venezuela é um dos principais parceiros do Brasil. Com as dificuldades encontradas no Mercosul, o Brasil acabou apostando em um parceiro da região amazônica”. Gehre reforça que, sendo um chavista ou Henrique Capriles que ganhe as eleições, as relações bilaterais não serão afetadas. 
 
Marcus Vinicius de Freitas, coordenador do curso de ReIações Internacionais da FAAP lembra que a relação econômica entre Brasil e Venezuela vem do período Chávez - Lula quando o presidente da Venezuela teve problemas diplomáticos com seu vizinho, a Colômbia, e buscou no Brasil um novo aliado e parceiro comercial. “Hoje, essa parceria fez da Venezuela um dos maiores importadores do Brasil, atualmente ela compra máquinas, itens de vestuário e manufaturados”.
 
A situação de Cuba após a morte de Chávez
 
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É grande a dependência que Cuba possui em relação à Venezuela
 
Mesmo nas eleições venezuelanas de 2012, caso o candidato de oposição, Henrique Capriles vencesse muito foi questionado sobre a dependência cubana da Venezuela. A ilha recebe aproximadamente 115 mil barris por dia a preços especiais. 
 
Omar Everleny Perez, do Centro de Estudos sobre a Economia Cubana, na Universidade de Havana, destacou em artigos que a Venezuela é a principal parceria de Cuba, mas que existem outros países importantes comercializando com o país, entre eles, China, Espanha e Estados Unidos. 
 
Muitos apontam que existe um cordão umbilical entre Venezuela e Cuba e sem o petróleo venezuelano o turismo e outros setores do país entrariam em colapso.  O dissidente e ex-preso político, Jorge Olivera Castillo explica que a Venezuela ocupou o papel da antiga União Soviética, ajudando a ilha com subsídios e petróleo barato. Agora, o futuro dessa parceria dependerá do quadro político.  Em troca, Caracas recebe serviços voluntários e médicos vindos de Cuba.
 
Perfil econômico da Venezuela
 
Variação do PIB:
2009: -3,2%
2012: 5,7%
 
Taxa de desemprego:
2002: 16%
2012: 8%
 
Importação: US$49,2 milhões (2010)
 
Exportação: US$67,5 bilhões (2010) 
 
Principal comprador de petróleo: Estados Unidos, 60% da produção vão para os Estados Unidos
 
Países que possui forte relação comercial: Cuba, China, Espanha, Estados Unidos e Brasil
 
Principais produtos importados do Brasil: Roupas, máquinas mecânicas, máquinas elétricas, produtos farmacêuticos, produtos químicos, plásticos, carne, animais vivos e açúcar. 

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